Adjetivo de bandido sem proteção política é vulgo e de ‘protegidos’ é codinome
Com o advento da Operação Lava Jato a cada dia fica claro que as organizações Criminosas Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV) perdem em organização para o esquema criminoso estabelecidos por políticos no Brasil. As delações premiadas de 77 executivos do grupo Odebrecht, as quais ainda serão validadas ou não pelo Supremo Tribunal Federal retratam bem essa realidade. Por outro lado, o tratamento a esses agentes ligados a legendas partidárias é diferenciado porque o adjetivo de bandido sem proteção política é vulgo e de ‘protegidos’ é codinome.
As lideranças das duas maiores facções criminosas do país gerenciam seus interesses financeiros de dentro das Unidades Prisionais, enquanto os citados nas delações transitam ao seu bel prazer nos poderes legislativo e executivo. Os representantes das relações institucionais da Odebrecht e/ou de outros aglomerados empresariais cooptavam os políticos mais influentes no entorno da Presidência da República, mas principalmente os que exercem ou exerciam mandatos eletivos. Com isso, os corrompidos agiam com zelo em prol de atender as expectativas dos corruptores.
No mundo do crime o tráfico de droga, assalto às agências bancárias, comércio ilegal de armas e a prostituição se caracterizam como os principais instrumentos de enriquecimento ilícito do PCC e do CV. Por outro lado, a principal fonte de arrecadação envolvendo os políticos era a ‘venda’ de Medidas Provisórias aos executivos. De acordo com números atualizados, os benefícios com a aprovação desse artifício no Congresso Nacional proporcionaram cerca de R$ 140 bilhões em valores atualizados de desconto em impostos. Desse valor, parte foi retirado para pagar o ‘trabalho’ dos parlamentares envolvidos no esquema.
A técnica utilizada de cooptação é semelhante nos dois casos, pois ambas procuram encontrar quem tenha liderança e disposição para enfrentar condições adversas. O membro de uma facção quando é preso e se mantém fiel aos preceitos da organização a que pertence, principalmente quando dizem não saber de nada cresce em conceito no mundo do crime. Nesse sentido, o negar faz parte dessa escola, por isso, os delatados procuram descaracterizar seus acusadores. Entre os dois mundos só há uma diferença, o foro privilegiado que a classe política no exercício de mandato detém.
Segundo o delator, Cláudio Filho, a empresa mantinha uma relação frequente de concessões financeiras e pedidos de apoio aos políticos, inclusive caracterizando uma privatização indevida desses em favor de interesses empresariais nem sempre republicanos. O procedimento consistia em descrição das etapas do poio as demandas legislativas, monitoramento das proposições, apoio na inserção de cada setor na agenda do Congresso, às demais empresas e entidades afins. Essa forma de teia nos bastidores da criminalidade convencionou-se chamar de consórcio, a qual integra diferentes atores.
A uma deferência ao comércio ilegal de entorpecente, o gerente da boca de fumo’ é o ‘monitor legislativo’, o primeiro observa a movimentação de pessoas viciadas, enquanto o segundo o trabalho desenvolvido na Casa de Leis. Toda movimentação é repassada ao gerente da ‘boca’, mas com o mesmo sentido, o ‘radar legislativo’ é entregue aos responsáveis pela relação institucional das empresas. Os traficantes ditam as regras em seu espaço, mas no caso dos órgãos entes federados, os executivos criam comitês temáticos para municiarem os congressistas na defesa dos interesses comerciais.
A prática revelou um raio – x de corrupção a partir de 2004 junto ao centro do poder central do Brasil, em que integrantes de todas as esferas se macularam ao receberem benesses em prol da ganância de empresários. Aos moldes do financiamento do PCC e do CV em suas ações no território nacional, o recurso ilegal era empregado via caixa 2 em campanhas eleitorais nas bases de cada grupo político beneficiado. O Juiz Sérgio Moro, especialista em crimes dessa natureza, investiga e esse desvio da função pública vinha sendo utilizado para a perpetuação no poder de velhos ‘caciques’ da política nacional.
O trabalho firme dos procuradores da Operação Lava Jato e o tsunami na política brasileira já teve grandes consequências, a exemplo pode ser citado que colaborou para o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e principalmente a destituição do presidente da Câmara Federal, o agora preso, ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB). Essas organizações criminosas se assemelham porque, a princípio, não é possível vislumbrar o fim das investigações. Todavia, o braço do estado está erguido para amenizar essas ocorrências que só causam prejuízo a sociedade.
A perspectiva da população é que não fique pedra sobre pedra, ou seja, que tudo venha à tona e uma vez identificados os responsáveis pela sangria no erário público que todos sejam devidamente punidos. A alegria geral é que a cadeia que outrora no dito popular só servia para preto, pobre e prostituta, agora também alcançou os ditos intocáveis. Dentre outros, o ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral está preso no presídio Bangu I, inclusive sua esposa e assessores. Por outro lado, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenta provar sua inocência após virar réu em quatro acusações.
Na delação considerada ‘fim do mundo’, o senador Romero Jucá (PMDB), considerado o eterno líder pela classe política por exercer o cargo desde a presidência de Fernando Henrique Cardoso é tratado pelo codinome de ‘Caju’. De acordo com o delator, o parlamentar era o principal contato da Odebrecht no Senado Federal e agia sob a benção do presidente, Renan Calheiros (PMDB), o ‘Justiça. Nas planilhas da empresa, o ex-presidente da Câmara era considerado ‘Caranguejo’, o atual Ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha de ‘Primo’ e o próprio presidente da República, Michel Temer é tratado por ‘MT’.
O último delator a ser ouvido foi Marcelo Odebrecht, intitulado por todos o ‘Príncipe’ justamente por ser o dono do cofre da empresa e o responsável por autorizar os repasses aos políticos. A partir de agora, o Ministro Teori Zavascki do Supremo Tribunal Federal analisará para ver se aceita as delações premiadas ou não. Diante desses adjetivos, o líder do PCC Marco Willians Herbas Camacho ‘Marcola’ e do CV Luiz Fernando da Costa, “Beira-Mar” poderiam reclamar citando um trecho da música Jesus Chorou do grupo de rap Racionais Mc’s que expressa: “Vão me chamar de senhor, não por vulgo”.
Codinome
Michel Temer (MT); Romero Jucá (Caju); Renan Calheiros (Justiça); Geddel Vieira (Babel); Eliseu Padilha (Primo); Moreira Franco (Angorá); Eduardo Cunha (Caranguejo); Jacques Wagner (Polo); Delcídio do Amaral (Ferrari); Senador Eunício Oliveira (Índio); Dep. Lúcio Vieira Lima (Bitelo); Dep. Rodrigo Maia (Botafogo); Anderson Dornelles (Las Vegas); Gim Argello (Campari); Senador Ciro Nogueira (Cerrado); Senador José Agripino (Gripado); ex-Deputado Federal Inaldo Leitão (Todo Feio); Deputado Federal Duarte Nogueira (Corredor); Deputado Federal Marco Maia (Gremista);
Codinome I
Deputado Federal Antônio Brito (Misericórdia); Edvaldo Brito (Candomblé); Deputado Federal Arthur Maia (Tuca); Flávio Dolabella (Fazendeiro); Deputado Paes Landim (Decrépito); Paulo Henrique Lustosa (Educador); Heráclito Fortes (Boca Mole); Arthur Virgílio (Kimono); José Carlos Aleluia (Missa); Colbert Martins (Médico); Adolfo Viana (Jovem); Lídice da Mata (Feia); Daniel Almeida (Comuna); Paulo Magalhães Júnior (Goleiro); Hugo Napoleão (Diplomata); Jutahy Magalhães (Moleza); Antônio Palocci (Italiano); Aécio Neves (Mineirinho); Gilberto Kassab (Kafta).
Autor: DAVID RODRIGUES