O velho MDB (Movimento Democrático Brasileiro) que resistiu firme e saiu fortalecido da Ditadura Militar ocorrida no período de 1964-1985, teve sua ascensão para assumir a presidência do Brasil na pessoa do presidente Tancredo Neves. Com sua doença e morte, o então vice, José Sarney oriundo do PDS assumiu a presidência, a princípio, interina do país após a chapa ter sido vitoriosa de forma indireta no colégio eleitoral.
Nesse cenário de 1985 a 1990 com o P de partido acrescido à sua denominação teve um crescimento significativo, inclusive se tornando o maior a nível nacional. Deste então, a legenda se atrelou ao poder e passou a usufruir do mesmo sem exercê-lo na titularidade. A exemplo do que ocorreu na gestão do primeiro presidente eleito democraticamente, Fernando Collor de Melo (PRN) de 1990 a 1992. Posteriormente, contribuiu para o impeachment deste.
Com o impedimento do alagoano, o mineiro Itamar Franco de raízes no PMDB assumiu a presidência e a exerceu de 1993-1994. Nessa oportunidade, o partido deu outra guinada e ampliou sua base na Câmara e no Senado Federal. Nesse período surge a figura do jurista e hoje vice-presidente Michel Temer, o qual apadrinhado pelo ex-governador de São Paulo Franco Montoro passa a buscar seu espaço de liderança na agremiação partidária.
Ao exercer o mandato de presidente da Câmara Federal no período de 1997 a 2001 ganhou notoriedade e se tornou presidente do maior partido do Brasil, inclusive conviveu no alicerce de poder da gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Posteriormente, optou por apoiar o então candidato à presidência, José Serra, mas perderam para o metalúrgico Luís Inácio Lula da Silva (PT) que presidiu o país no período de 2003 a´2010.
Por outro lado, o ex-presidente, José Sarney, havia liderado uma ala peemedebista de apoio a Lula, então o partido permaneceu na base palaciana ocupando ministérios e cargos federais em todo Brasil. Nesse ínterim, Michel Temer bem articulado se tornou vice-presidente da primeira mulher eleita presidenta do Brasil, Dilma Rousseff (2011-2016). Desde então, instalado no Palácio do Jaburu passou a ensaiar sua jogada de mestre.
Com o Brasil atravessando um momento ímpar em sua história, pois a população brasileira se apresenta dividida quanto à manutenção do poder central ou não exercido pelo PT (Partido dos Trabalhadores). Nesse sentido, o vice-presidente passou a ter um papel fundamental no sentido inverso do projetado pelo núcleo político central do Palácio do Planalto. Inclusive, passou a liderar caravanas nos Estados e esteve em Rondônia no mês de fevereiro.
Em defesa própria, os governistas usaram o discurso de que a esperança havia vencido o medo e dessa forma seguiu avançando através de políticas sociais a exemplo do Minha Casa Minha Vida e do Bolsa Família. No entanto, havia tido reveses com o Mensalão e o Petrolão. Essas duas portas abertas de prática de corrupção abalaram o Executivo, mas com contra-argumentos cada vez mais fragilizados conseguiu afastar a problemática institucional.
Com sucessivas edições da Operação Lava Jato atingindo o 1º escalão do Governo a partir de delações premiadas de megaempresários, políticos influentes e ex-aliados a exemplo do senador Delcídio Amaral (PT) a ‘república’ tremeu. Os partidos da base de sustentação passaram a abandonar o navio, inclusive o PMDB que há 13 anos dava apoio incondicional ao governo. Assim, o pedido de impeachment a partir das pedaladas fiscais ganhou forma.
Em pleno fervor político e após o relatório do impedimento de Dilma ter sido aceito por 38 contra 27 votos na Comissão da Câmara Federal, o juiz Sérgio Mouro desencadeou a 28ª Operação Lava Jato que prendeu o ex-senador Gim Argello. Desde então, os opositores fizeram um retrospecto e levaram o público a pensar que caso o mesmo resolvesse fazer delação premiada por ter obstruído a CPI do Petrolão derrubaria o Governo de vez.
No domingo (17/04) ocorreu a votação do impeachment e a pressão popular em escala nacional influenciou diretamente no voto final dos parlamentares, pois com 367 votos a favor e 137 contrários, o processo segue agora para o Senado Federal. Na semana que antecedeu esse dia ‘D’, houve uma intensa movimentação da classe política em dois quarteis generais, um comandado por Dilma Rousseff e outro por Michel Temer.
Dessa forma, à opinião pública acompanhou uma verdadeira guerra de informações e um ‘certo’ entusiasmo na construção de um governo provisório, sob o comando do vice-presidente Michel Temer. Nos bastidores da votação na Câmara, se tornou o principal articulador a favor do impedimento da presidente Dilma Rousseff. Com essa tendência, há indícios que já estaria articulando os 42 votos pró-impeachment no Senado Federal.
Em 2016, os peemedebistas completaram 50 anos de história e seu marco foi o papel fundamental na campanha a favor das Diretas Já na pessoa do ex-deputado federal Ulysses Guimarães ao lutar contra 21 anos de Ditadura Militar. No entanto, esse legado está sendo posto à prova, mas só o futuro irá dizer se contribuiu ou não para um golpe contra o presidencialismo. Por outro lado, se descobriu uma ‘Raposa Hollywoodiana’ no Palácio do Jaburu.
Autor: DAVID RODRIGUES