Há um grande equívoco nacional em que se discute a origem dos recursos utilizado pela maior construtora do país, Odebrecht, na cooptação de políticos para atuarem na defesa de interesses escusos em praticamente todas as esferas do poder. As lideranças nacionais reiteram o discurso de que as doações foram oficiais e devidamente aprovadas pela justiça eleitoral, mas a verdade é que seja por esta via e/ou caixa 2, o fato é que a empresa subjugou a nação ao seu bel prazer.
O modus operandi da empreiteira a fez crescer nos últimos dez anos mais de 500%, a façanha prodigiosa se deu com a colaboração dos agentes políticos que se corromperam. Durante esse período não houve outra empresa que apresentasse tamanho crescimento, no entanto, tudo foi a custo de recursos públicos. Para tanto, membros do executivo e legislativo foram corrompidos para trabalharem em favor dos contratos da Odebrecht. Em contrapartida, receberam repasses financeiros indevidos.
Na música Que país é este? O saudoso Renato Russo já enunciava a corrupção no Senado Federal e por extensão a todos os demais segmentos do poder central, inclusive o desrespeito a Constituição mesmo acreditando em um futuro próspero. Por sua vez, o eterno Cazuza, desiludido com os supostos “heróis” bradava por uma ideologia ideal para aplicar no cotidiano. As letras das músicas apregoam uma realidade nacional, principalmente diante da desconfiança ante a corrupção generalizada.
A Odebrecht talvez tenha se inspirado na música Aluga-se de Raul Seixas, através da qual o compositor baiano propunha que o Brasil fosse alugado para que os brasileiros se livrassem do pagamento de impostos e demais obrigações que oneram o bolso do trabalhador. No entanto, a empreiteira fez o inverso porque ao invés de alugar tornou o país refém de seus interesses mesquinhos. Inclusive, o mais grave é que a conta ficou para os contribuintes que já sofrem com uma carga tributária pesada.
O Ministério Público Federal se esforça para frear e punir os corruptos, mas esbarra na burocracia e nos infinitos recursos da defesa dos suspeitos de corrupção em instâncias superiores. Os Ministros do Supremo Tribunal Federal procuram responder á altura aos anseios da sociedade, no entanto, não agem na mesma velocidade que as denúncias são feitas. Por conta disso, as instituições vêm caindo em descrédito perante a opinião pública que está cada vez mais impaciente com os políticos.
A classe política ruiu e precisa ser reformulada, no entanto, isso não é possível sem o comprometimento real da sociedade que é a principal vítima de todo esse circo criminoso que ora se denomina “República da Odebrecht”. É lamentável que entre os nomes apontados 76 (setenta e seis) possuem foro privilegiado, ou seja, fazem parte da alta cúpula do poder central e precisam responder por seus atos queiram ou não. Por isso, a fim de amenizarem o clamor social apregoam uma falsa reforma política.
O trabalho dos procuradores é árduo na distribuição dos casos e pedido de inquéritos, inclusive na divisão das competências jurisdicional para darem andamento nas investigações. As centenas de depoimentos envolvendo testemunhas contra e a favor dos denunciados é outro desafio, pois envolve membros de todos os entes federados. Por outro lado, ao correrem contra o tempo é possível que a burocracia gere prescrição de alguns processos e é o que os denunciados mais almejam.
É lamentável o que vem ocorrendo no Brasil, mas isso não é nem uma surpresa porque nossos artistas e compositores há tempos denunciam o que ocorre nos bastidores da política brasileira. O compositor Zé Geraldo através da música Milho Aos Pombos retrata um pouco do contexto social brasileiro, inclusive da falta de políticas públicas. Em um dos trechos faz com sabedoria uma referência a escalada de poder em todos os níveis, ao afirmar: “Quando mais alto o cargo maior o rombo”.
Em mais uma referência a Cazuza é possível fazer uma reflexão sobre a música Brasil, pois ao retirar a máscara e contemplar a face da corrupção é possível vislumbrar que a Odebrecht pagou para ver essa realidade podre. Por outro lado, a construtora se revelou ser a sócia maior nas negociatas praticadas nos bastidores da política. Caso alguém procurasse uma expressão para designar sobre o alcance do braço dessa empresa, poderia ser dizer que se estendeu do Oiapoque ao Chuí.
Se a avalanche das revelações contra a maioria dos grupos políticos que dominam a política nacional fosse submetida a um profeta, este não concordaria com o adjetivo de delação do fim do mundo e sim dos tempos. Diante disso, a sociedade brasileira terá que escolher o menos corrupto para governar o Brasil em 2018. Presidenciáveis e ex-presidentes da República defendem a biografia de olho nas eleições presidenciais, principalmente porque almejam tornar o grupo que militam vencedor nas urnas eletrônicas.
A crise política que paralisa o país e respinga nos políticos de Rondônia causa desaprovação da sociedade, no entanto, após os contrapontos defendidos por correligionários não se observa mudança de comportamento. Longe de dizer que todos sejam corruptos, mas o exemplo de lideranças a nível regional deixa a desejar. O fato é que se ouve durante o processo eleitoral a frase “rouba, mas faz”. Portanto, eis uma máxima que é preciso se extirpada da consciência dos eleitores rondonienses.
A verdade é a de que as operações financeiras via Odebrecht possuem cifras da ordem de bilhões, mas não tem cor partidária porque proporcionou contribuição financeira para praticamente todas as legendas do país. Já que tudo termina em samba e pagode no Brasil, ano que vem terá eleições gerais e é bom que os políticos se preocupem com o teor da música Comunidade Carente de Zeca Pagodinho: “Nós já preparamos vara de marmelo e arame farpado, cipó-camarão para dar no safado que for pedir voto na jurisdição”.
Autor: DAVID RODRIGUES